Durante o 13º Festival Palco Giratório, os coeditores do site, Michele Rolim e Renato Mendonça, coordenaram a oficina de crítica teatral Olhares da Cena, dentro do eixo Cena em Questão.
Confira abaixo trechos das críticas produzidas durante a oficina pelos oficinandos Laís Auler, Lucas de La Rocha, Luis Roberto Amabile, Maurício Estrázulas e José Henrique Alves.
Outra atividade do PG que teve a participação do AGORA foi o projeto TRANSIT, parceria entre Goethe-Institut e SESC. Michele e Renato acompanharam o processo de criação dos espetáculos Tremor: sobre como as coisas foram chegar a esse ponto, de Patricia Fagundes, e Tremor, de Lucca Simas, ambos sobre o texto Beben, da dramaturga alemã Maria Milisavljevic. No dia 23 de maio, participaram do debate sobre o projeto TRANSIT ao lado dos diretores Patricia e Lucca, do jornalista Valmir Santos e de Maria Milisavljevic.
No dia 26 de maio, no encerramento do festival, o AGORA participa do debate Crítica, Curadoria e Mediação Cultural.
Laís Auler, atriz e jornalista
Farinha com açúcar é uma encenação para tirar o espectador do conforto das suas poltronas, das suas vidas. A montagem é um híbrido de peça, performance, show, manifesto. Em cena tem-se um único ator, porém nem perto pode ser considerado um solo devido à presença marcante de mais quatro músicos e um DJ mo palco, que juntos entoam palavras e poesia ao ritmo do rap. Todos negros. Todos nascidos em comunidades paulistanas marginalizadas. O Teatro do SESC foi tomado pelo cenário que reporta aos barracos do Capão Redondo, bairro pobre da periferia da cidade de São Paulo, remetendo ao sentimento de apertume da favela, ao pouco espaço para se mexer e se distinguir do próximo.
Farinha com Açucar ou Sobre a Sustança de Meninos e Homens. Foto André Murrer
Lucas de La Rocha, cineasta
Ao longo de toda a peça [Suassuna – O Auto do Reino do Sol] mantive um sorriso no rosto, entrei em verdadeira comunhão com aquele grupo circense que fazia questão que interagir com o público ali presente. Palmas, coros e até diálogos são explorados em interações com os espectadores. E foi naquele momento que obtive a resposta para “o que me fazia gostar de uma peça teatral?”.
O cinema contempla a narrativa, mas o teatro contempla a experiência. A narrativa está ali, junto com você. Ela empresta o espaço de encenação para sua interferência. Se a magia do cinema está na fé da imagem, a do teatro está na comunicação do momento.
Suassuna O Auto do Reino do Sol. Foto Elisa Mendes
Luis Roberto Amabile, escritor e professor universitário
Em três décadas, a Cia dos Atores se pautou por um teatro que mistura experimentalismo e apelo ao público. O padrão se mantém em Insetos, mas a montagem me fez indagar: será que a sátira não dilui em demasia a força do que é dito?
Em 2000, ainda sob a batuta do diretor-fundador Enrique Diaz, a Cia dos Atores encenou O Rei da Vela, de Oswald de Andrade. Na ocasião, um crítico (Macksen Luiz, do Jornal do Brasil), escreveu que o espetáculo se mantinha “no plano morno do deboche e do retrato da vulgarização do espetáculo da vida nacional". Em menor grau – Insetos vai além do plano morno –, a observação se aplica à montagem do texto de Jô Bilac. A peça reflete e conversa com o que está acontecendo neste momento no Brasil, mas o modo como o faz – uma sátira, às vezes exacerbada – talvez não seja tão contundente como poderia.
Insetos. Foto Elisa Mendes
Maurício Estrázulas, ator e comunicador
O núcleo familiar rende uma passagem em que uma família clássica realiza uma refeição em silêncio. A comunicação se resume a trocas de olhares. Destaque para a cena em que o ator entra em cena com um guarda-chuva e uma lanterna, apresentando seu texto em português no meio do palco. Na esquerda dele, uma atriz repete a mesma fala em inglês, e outra atriz faz isso em espanhol na direita. A cena, inexistente em 2016, foi incorporada nessa montagem e ficou fantástica.
Salve Samuel Beckett, o mestre do Teatro do Absurdo. Ruídos é um espetáculo que incomoda o silêncio da plateia... E da humanidade!
Ruídos. Foto Gabriehl Oliveira
José Henrique Alves, crítico e roteirista
A peça [Hamlet] é magnífica quando se trata de ter um grande cenário e lançar mão de recursos digitais notáveis, reproduzindo numa grande parede de vidro o espírito do rei morto. Esse expediente, embora impressionante na medida em que reforça o impacto de uma aparição sobrenatural, não estabelece maior relação com o público e com o próprio texto. O que me espantou foi perceber que não se escutava a voz de alguns atores, dificultando a compreensão das falas e afastando o público de um dos textos mais célebres do teatro. Lembrando que a Armazém Companhia de Teatro está há mais de 30 anos levando suas produções com sucesso pelo Brasil, como Aniversário da vida, aniversário da morte (1987), A Ratoeira e o Gato (1993), A Tempestade (1994), entre outras.
Hamlet. Foto João Gabriel Monteiro