LIVE BLOGGING DE "BRINCO DE PRINCESA"
Mateus Araújo (PE), de Porto Alegre, 29/07/2015
Críticos do site Agora discutem montagem de Dilmar Messias (RS)

Na manhã da segunda-feira, penúltimo dia do encontro, o grupo analisou dois textos, ambos sobre o espetáculo Brinco de Princesa, solo de Débora Rodrigues com direção de Dilmar Messias, assistido ontem à noite. As críticas foram escritas por Patrick Pessoa e Ruy Filho.

A primeira leitura é a das percepções de Patrick. Jürgen Berger começa a conversa lembrando de alguns detalhes de padronização dos textos, já acordadas anteriormente, sobre o uso de determinadas expressões. Isso dito, Jürgen brinca sobre o texto de Patrick. Comenta, também com humor, os olhares mais “aprofundados” de Patrick, especificamente o uso de uma citação de Heráclito no último parágrafo. “Não tenho nada a dizer nesse texto. Está bem escrito”, acrescenta. “Da minha perspectiva, faria apenas duas alterações: substituiria o título ‘gangorra quebrada’ por  ‘inspiração e transpiração’ e cortaria o último parágrafo.” Ainda para ele, era possível também convencer Patrick a diminuir pela metade o texto escrito. “Nem todos os dramaturgos conseguem parar de escrever”, brinca o crítico alemão.

A leitura feita por Helena continua. Jürgen deixa o espaço aberto para que todos se coloquem, se assim sentirem necessidade, sobre o texto. Patrick, no seu texto, cita os dois pontos de vista sobre a origem de uma obra de arte para explicar o conceito do espetáculo Brinco de Princesa, depois dá opinião sobre a “infantilização” do espetáculo. Considera sincero o espetáculo, mas diz que a fofura associada a ele não cabe.

Helena diz que se identificou com o sonho de infância  de Débora Rodrigues que queria ser adulta. “Só a ideia, não o formato”, diz ela. Patrick explica que o problema está em confundir o trato da experiência infantil com um texto “pueril”. Para ele, o espetáculo erra ao achar que inspiração e espontaneidade são suficientes para criar uma obra. “Falta transpiração.” 

Para Jürgen, seria ideal tirar do texto, por ser redundante, a frase “quem rebaixa esse esforço está inevitavelmente condenado a ficar sozinho, a pregar no deserto”. Patrick explica que a primeira parte é necessária, mas concorda com a saída do segundo trecho.

Patrick questiona o uso de teatro e circo no espetáculo, justificando-se pela falta de coerência entre a junção de quadros. Jürgen intervém e corrobora. Afirma ter sido esse um problema da noite passada.

Aparece outra dúvida em relação à estruturação do texto. Patrick usa perguntas retóricas na sua crítica, na verdade corroborando o que ele já havia deixado bem claro na sua opinião anteriormente no texto. Soraya, no entanto, questiona Jürgen se ele se opõe ao uso dessas perguntas ou se era preferível transformá-las em afirmações. Ele responde que é uma escolha do crítico. “Se ele faz assim, é porque tem convicção de que o leitor vai entender isso. Se você se sente melhor fazendo uma frase analítica, pode. Eu também faço isso às vezes. Se fizer assim, a gente corre o risco de alguns leitores não entenderem”.

Soraya, porém, diz que está claro que no texto são pontos não realizados no espetáculo. Jürgen concorda. Patrick diz que, quando escreveu, achava que Jürgen ia preferir que ele dissesse diretamente – várias vezes o alemão pediu objetividade, durante outras leituras. No entanto, ele explica: “O estilo são vocês que decidem, que se sentem melhor”. “Essas perguntas foram feitas só duas vezes, mas tem que ter cuidado. Como o leitor já vem preparado por outras partes do texto, aqui vai ficar clara a crítica”, acrescenta Renato, ressaltando que a frase usada por Patrick para definir o texto como uma poesia pueril dá todo o tom do texto.

Como havia posto no início da discussão, Jürgen torna a questionar o grupo sobre o título da crítica. Quer saber se todos acham ideal a frase usada por Patrick. Soraya defende que deve deixar Gangorra Quebrada, como está. “É uma imagem bonita”, pontua Patrick.  Jürgen também traz a pergunta sobre a retirada do último parágrafo do texto, pois o acha redundante.

Para Soraya, apenas parte deveria ser retirada. Ela acha interessante juntar as perguntas feitas no penúltimo parágrafo com a frase “claro que nada disso importa...”, com a qual Patrick encerrava sua crítica.  O autor, no entanto, faz questão de usar uma citação que fez do “velho Heráclito”. O grupo concorda.

O segundo texto lido pelo grupo é de Ruy Filho, ressaltado por Jürgen como um estilo diferente do de Patrick e, ainda, com um belo título. Numa análise geral, Jürgen apenas pontua que os segundo e terceiro parágrafos do texto são criados como uma discussão de dentro da cabeça do autor, mas que, se possível, deveria optar por usar exemplos mais concretos para ilustrá-los. Ainda sobre o título do texto, sugere que podia ser dividido. “Nem circo, nem teatro. Um palácio de princesa” é um título extenso.

Ruy também pontua, como Patrick, a fraqueza do texto do espetáculo. Todos concordam. Ele também diz que outro erro da peça é subestimar uma criança e pergunta: qual anseio esconde de fato o espetáculo? Para o autor da crítica, confirmado pelo grupo, falta mais elaboração na dramaturgia. O trabalho é carente na atualização dos códigos circenses e teatrais. Ruy chama Brinco de Princesa de “circo ingênuo e teatro envelhecido”. Jürgen diz que é muito boa a colocação.

A crítica enfatiza que a peça poderia se colocar numa interessante experimentação entre teatro e circo, mas, como está, parece uma coleção de exemplos do que não deveria estar no espetáculo. As opiniões de Patrick e de Ruy convergem para o mesmo caminho, embora sigam um estilo de escrita diferentes. “A discussão formal na crítica (como fez Ruy) não é sempre mais interessante do que a abordagem conteudística como eu fiz?”, pergunta Patrick. Jürgen corrige: “eu não compararia uma com a outra”.

Adair, que se coloca como “mera espectadora”, garante ver formas diferentes de abordagem. “Uma vai chegar de forma direta e outra de forma reflexiva. Para um site como esse, perfeito”, diz ela. Jürgen concorda e acrescenta: “o interessante é que muitas vezes chegamos a conclusões iguais entre nós sobre o teatro que a gente viu, mas, pegando o que Adair disse, são formas diferentes de apresentar a crítica e vão chegar a leitores diferentes”. Ele ainda diz que Ruy poderia ter escrito com mais clareza alguns pontos de sua percepção, ou usando frases mais curtas, embora seja uma questão de estilo também.